Hey galera, tudo bom?
Na quinta-feira recebi a minha tão aguardada cartinha do Projeto Com amor, por favor, sem flash e super adorei. E quem me enviou a cartinha foi a Raquel Carmim do blog Paradise. Fiquei muito feliz em poder saber um pouquinho sobre o que ela gosta e poder ler seu conto que simplesmente adorei. *-*
Então sem mais vamos conferir o conto dela...
Correr,
respirar, sobreviver. São os únicos instintos que meu corpo conhece no momento.
Minhas mãos seguram firme a arma que eu usei pela primeira vez a cerca de uma
hora atrás. A rua que um dia foi tão movimentada, hoje está definitivamente
morta, mais a frente encontram-se vários carros, todos abandonados.
Não
posso seguir em frente, meus músculos protestam contra o esforço excessivo ao
qual meu corpo não está acostumado. Preciso invadir uma casa, mas isso pode significar
minha morte. Avisto a casa que eu costumava temer. Uma construção vitoriana
abandonada com uma história sombria sobre corpos escondidos no porão. Mas hoje
existem coisas piores para se temer do que histórias de terror.
Com
a atenção redobrada eu aponto a arma e a lanterna para o terreno e me certifico
de que está vazio. Tenho que me esforçar muito para pular a grade e atravessar
o quintal até a casa. Só agora consigo entender realmente a sensação de estar
com os nervos à flor da pele. Minha respiração parece alta demais, o silêncio
parece zunir no meu ouvido, meu suor frio me dá arrepios. Agora tento me
lembrar do vigia que costumava tomar conta da casa durante a noite, o único
ponto onde as luzes ficavam acesas era no quartinho do andar de cima. Ele ainda
pode estar lá. Bem, talvez o que esteja lá um dia foi ele.
Entro
pela porta do lado que leva a sala, nenhum sinal de vida ou algo parecido com
isso. Tudo está tomado pela escuridão e minha lanterna está falhando. Quem
diria que pilhas seriam tão importantes para a minha sobrevivência. Não quero,
mas preciso subir. Um degrau de cada vez, silenciosamente. Quanto mais me
aproximo mais eu tenho certeza de que ele está lá. Ouço a respiração pesada do
monstro. Não posso fazer barulho porque isso pode atrair outros, então pego a
faca que estava presa na minha cintura. Respiro. Um, dois, três. Abro a porta e
o vejo. É assustador e nojento. Um cadáver ambulante que notou a minha
presença. Deixo a adrenalina tomar conta de meu corpo e cravo a faca em sua
cabeça antes que ele possa fazer qualquer coisa.
Na
cozinha encontro uma geladeira velha com uma garrafa de água e alguns pães
velhos. Bebo avidamente e como as partes sem mofo de dois pães. Guardo o resto
em minha mochila. Acho que posso me dar ao luxo de dormir em uma cama. Talvez
encontre uma no terceiro andar. É aí que tudo acontece. Ouço aquela mesma
respiração pesada, mas já é tarde. Um grito já se formou em minha garganta e
sangue jorra do meu ombro. Encontro minha arma em cima da geladeira e atiro
várias vezes contra a mulher que me mordeu até que ela fique completamente
imóvel. Minha respiração está descontrolada e meu corpo começa a tremer
violentamente. Não, não, não. Já vi o que acontece com quem é mordido pelos
monstros. Minha mente tenta desesperadamente formar planos de fugir deste
destino, mas no fundo já estou convencida da verdade. Ainda assim tento tratar
do ferimento. Levanto-me e vou até a pia, minhas mãos tremem descontroladamente
ao abrir a torneira. Ouço um chiado e água começa a jorrar, inclino meu ombro e
preciso morder a alça da mochila pra não gritar. Rasgo um pedaço da minha blusa
e amarro ao ferimento, a dor é lancinante. Remexo minha mochila a procura de
algum medicamento. O barulho dos meus tiros vai atrair mais deles, ainda
consigo fugir daqui. Tento não pensar no que vai me acontecer quando o vírus
atingir meu cérebro.
Meus
dedos tocam em algo pequeno, um vidro. Tenho de dar umas batidas na lanterna
para iluminar o objeto, mas não precisava disso para reconhecê-lo. É tão
pequeno que seguro entre meus dedos, um recipiente com tampa vermelha e que
guarda um líquido transparente. Uma lembrança invade minha mente: Meu pai
colocando o vidro em minhas mãos dizendo “Corra, sobreviva!”, ele me abraça e
sussurra em meu ouvido “Mas se for mordida, tome isso. Eu prometo que não vai
doer”. Veneno. Parece cruel, mas na verdade é o melhor presente que ele poderia
me dar no mundo em que me encontro hoje. Ele me deu um escape. Não preciso
esperar até que eu me transforme, não preciso apertar o gatilho da arma contra
minha cabeça, não preciso fugir do que não posso escapar.
-
Obrigada pai, estou indo. – Retiro a tampa vermelha e bebo o líquido até que o
gosto amargo me impede de continuar. Mas já é o suficiente. Estou tranquila,
não preciso mais lutar pra sobreviver. Estou livre dos horrores que me
cercaram. A morte é um descanso.
Acima a fotinho que tirei da carta e se você quiser saber mais sobre o projeto
é só clicar aqui.
É isso
pessoal e até a próxima
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